"A gente quer muito pouco: uma sociedade igual, as crianças na escola, a vida tranquila, todos juntos, a vivência mais simples, os grandes empreendimentos humanos: teatros, cinemas, estádios, ainda maiores para que o povo possa participar mais. Ultimamente, ando muito ocupado. Quase todo dia vem gente aqui para fazer entrevista, mas eu levo a conversa para outro lado porque não vou falar de arquitectura e dos prédios que faço. Nada disso é muito importante. Os assuntos de arquitectura têm importância relativa para quem é arquitecto ou para quem a arquitectura se destina. Mas acredito que o importante é a vida e a luta política.
Lembro que um dia cheguei a meu escritório e havia um garotinho vendendo balas na rua. Ele tinha uns dez anos. Do elevador até a minha sala a miséria dele me parecia a coisa mais triste do mundo. Quando cheguei resolvi pedir a alguém para chamá-lo. Perguntei ao garoto: onde você mora? Ele disse: durmo nas calçadas. Tentei levá-lo para o estudo, mas ele estava nessa vida de luta e de aventura correndo da polícia, e foi ficando difícil até que desisti. Depois de dez anos ele apareceu por aqui, já um homem – e não para pedir ajuda ou nada – só para saber se eu estava bem de saúde."
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