"PARA QUE TUDO NÃO SE DESMANCHE NO AR"

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

TIA SANTA - LAECI

MEMÓRIAS DA TIA SANTA

LAÉRCIO

Era um menino mulatinho, franzino, que tinha aproximadamente 12 a 13 anos. Morava com sua avó, dona Marcolina, distante da nossa casa uns dois quilômetros. Laéci, como era chamado pelos amigos e pelos irmãos. Como seria hoje? Um menino de rua. Porém, lá na casa de meus pais não havia diferença, todos eram acolhidos. Laeci vinha muitas vezes, matar a fome em nossa mesa, onde sempre tinha lugar para mais um. Ele era um menino traquina, muito levado, às vezes tornava-se inconveniente, mas continuava freqüentando nossa casa. Ainda guardo na minha memória um versinho que ele cantava. Aí vai:
O filho do seu Martinho
Morreu enleado no espinhel
Lê o lá, vou pra São Real.

A trovoada estava roncando
Seu Martinho está pescando
Lê o lá ...

No outro dia às 8 horas
Vinha a menina pra escola
O filho do seu Martinho
Vinha boiando lá fora
Lê o lá ...

Assim era e Laeci. Passava cantarolando, jogando pedra nos outros, até que um dia desapareceu o Laeci. Dona Marcolina botou-se a gritar e a chorar. Todos procuravam meu pai que era prefeito, que então botou alguns homens no encalço dele. Tudo inútil.
Todos nós chorávamos a falta dele. Não houve canto que não fosse vasculhado.
Após três dias de procura, não se sabe como, Laeci foi encontrado dentro de um bambuzal. As varas de bambu eram tão juntas e entrelaçadas que não passaria um gato. Para tirá-lo de lá foi preciso cortar as varas. Os pretos velhos de Porto Belo atribuíram o seu desaparecimento a “coisa do demônio”. Diziam: Foi ele quem colocou Laeci lá dentro.
Laeci sumiu do nosso convívio há muitos e muitos anos.

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SERTÃO DO VALONGO

O tempo passa...tanta coisa para aprender,conhecer.....eu aqui parada....

Um sonho....estar lá....ouvindo...sentindo...vivendo...

Feche os olhos ..... e ..... dance....